RECITAL DA JOSÉ MADUREIRA
O 5º e o 6º anos inspirados na proposta da OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA, poetas da escola, têm o prazer de MOSTRAR nesse recital o tanto de encanto que a poesia anda lhes proporcionando .
Nosso recital compõe-se de duas partes: primeiro vamos deliciar-nos com os versos de JOÃO HUGO DE MOURA, poeta nascido ali em São Sebastião do Rio Preto e que reside há anos lá no sul do Brasil em Balneário de Camboriú, Santa Catarina.
Depois será a vez dos alunos mostrarem que também são poetas – na segunda parte ouviremos poemas produzidos durante as aulas nos meses de junho e julho.
MINAS E SEUS POETAS
... JOÃO HUGO NUM DE SEUS POEMAS refere-SE A DOIS GRANDES NOMES DA POESIA E NOS APRESENTA a si próprio: ANJOS DE MINAS (Carlos Drummond de Andrade, de Itabira; Adélia Prado, de Divinópolis e ele - João Hugo).
Quando ele nasceu
Um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: vai, ser gauche na vida.
Quando ela nasceu
Um anjo esbelto
Desses que tocam trombeta
Anunciou: vai carregar bandeira.
Quando eu nasci,
Um anjo de bem com a vida
Disse: vai, vai viver a vida.
Fazendo barulho
águas pulam
das pedras
e brincam
de fazer bolhas
Sombras dançando
pedrinhas vaga-lumeando
Caem folhas
e estouram
bolhas
Formigas saltam
em pranchas-para-quedas
e saem a navegar
Aranha tece rede pra pescar no ar
Na pista d’água
mosquitinhos a patinar
pra lá
e pra cá
Sabiá tomou banho e tá todo perequeté
Passarinho passou
e cagou
Peixinho foi ver se era comida
e era
Perereca faz de conta que é folha
Cobra passou e nem viu
Pau caiu e virou ponte
Trenzinho de folhas não pára de passar...
LEMBRAM-SE DOS ANTIGOS GIRAUS CHEIOS DE PICUMÃ NAS COZINHAS DAS FAZENDAS DOS AVÓS? ISTO É, DOS SÓTÃOS ONDE... VAMOS NOS VERSOS DE HUGO
A sós, no banco da velha cozinha;
Como um cão em sentinela,
Espiava, o sótão da fazenda.
Da construção rústica
E escuro de fazer medo,
Pairava sob o teto.
Mas o sentimento aventureiro foi maior
Pois, na certa, lá estariam:
Rapadura e AMENDOIM
- SABOR DE pé de moleque.
Não me contive
E atirei-me escada acima.
Mão na massa,
Ouvi um ruído nas tábuas do assoalho;
Era o caminhar familiar de minha avó
Que se aproximava.
O sermão era certeiro:
_Menino levado! Não faça extravagâncias!
Menino! Não coma demais!
Menino! Você vai adoecer!
Mistura faz mal!
Menino! Você vai adoecer!
Mistura faz mal!
Sufocado pela fumaça,
Encolhido junto ao picumã,
Esperava a liberação da área.
Através das frestas do telhado
Pude sentir que, lá fora,
Um dia ensolarado me aguardava.
Era uma questão de tempo
Para cobrir de êxito
Mais uma emocionante travessura.
E NOS QUINTAIS...
Cantam galos cacarejam galinhas
Gorjeiam pássaros zumbem insetos
Em festa, o quintal desperta.
Oi assanhaço sabiá sibim
Ei pomba-rola juriti
Bom dia bem-te-vi
Jambo jaca jabuticaba
Laranja lima limão
Melão manga mamão
Guacho, gralha gaturamo
Pássaro-preto beija-flor
Papa-arroz fogo apagou
Quintais das bananeiras e laranjeiras
Quintais urbanos, quintais rurais
Arlequinais quintais de mulheres faceiras
Quintais que amam e sonham
Segradam e espreitam
Quintais de infância
Quintais de artes gerais
Fundos de quintais
Onde solitários em paz
Soltamos nossos profundos Ais!
E LÁ NOS ARREDORES DAS FAZENDAS
Pila pilão
Planta Maria, planta João
Pila pilão
Capina Maria, capina João
Pila pilão
Colhe Maria, colhe João
Pila pilão
Peneira Maria, peneira João
Pila pilão
A mão que lavra a terra é a mesma que faz o pão
Pila pilão
A vida é só plantar colher comer
Pila pilão
Soca a vida que te é um soco
Pila pilão.
E PESCAR ... COSTUME TÃO BANAL POR AQUI, NÃO É?... O QUE MESMO QUE SE PESCA?
Sentado na pedra, chapéu de palha,
Caniço na mão, cachimbava...
Lânguidas e repelentes baforadas
Algo beliscava... beliscava...
O velho pouco se importava.
Na flor d’água o olhar absorto...
Talvez projetasse na tela líquida
Algum replay da vasta vida.
Uma vida inteira... é tanto talvez
É talvez nada.
Algo se evidenciava: não era o peixe
O que mais interessava àquele velho pescador.
Num vale qualquer,
No meio de um quintal,
Uma casa...
Tudo em volta era verde
- verde também minha existência.
Da varanda,
Alguns transeuntes:
Boiadeiros... lavradores...
Meninos de escola...
Meu mundo era tão pequeno,
Tão bobo,
Tão bom...
Há um rio em mim.
Eu serei sempre esse rio.
Já passei por tua cidade,
Vou pelo mundo.
As forças que me impulsionam
Ninguém sabe, ninguém vê
Mas eu sinto.
Recusar o poder de mandar
Poder de explorar o próximo
Poder de matar
Poder de poluir
Poder de exterminar
Poder de oprimir
Podres poderes
Poder...
Dessa múltipla, difusa,
Visível e invisível moldura de nossas vidas,
Eu queria apenas o pode de viver:
AMAR e CONHECER.
Do alto, o menino contemplava a cidade.
Ali sentado se enveredou
Pelas ruas de sua infância...
A igreja velha, morada dos morcegos,
As casas abandonadas... – corre corre!
- esconde esconde! – já vou eu! – pude! – pique!...
Os quintais, quintais das pitangas e mangas alheias...
A bomba no bueiro debaixo da lata... BUMM!...
..............................................................................
Ali, horas e horas, naquele enleio de reminiscências,
O menino percebeu: a cidade mudara
E ele, morava agora no corpo de um homem.
MORAVA NO CORPO DE UM HOMEM ... MAS UM
Eu apenas escrevo
Contraponto, contrassenso, falta de senso.
Eu sou um bicho do mato
Nascido no Mato Dentro das Gerais.
Mato não tem mais.
Sou um bicho do sem mato
Que se recusa a se domesticar.
E O QUE É SER POETA, JOÃO HUGO?
Ser poeta é
Negar o nada
Combater o caos
Revelar o inconsciente coletivo
Transcender a semiótica
Comunicar o incomunicável
(A cor do Invisível, Claro Enigma)
_Ser poeta é sina
E o resto é silêncio.
E DO AMOR NOSSO DE CADA DIA, O QUE ELE DIZ?
Quando questiono meu estar no mundo
E lá vem você:
Com o pão, o leite
E um beijo,
Eu me perco em vida.
O amor é tão simples, tão tolo,
Tão essencial!
AGORA UM HINO DE AMOR À VIDA!
Ó terra, ventre fecundo
Ó sol, pai das cores
Água espelho de tudo
Vibram meus olhos
Vibra meu sangue
Vibram meus ossos
(Um belo dia resseca até ressentimento)
Quero alegria e leveza
Quero simbiose
De cabras e garças
Quero cheiro de manga caindo de madura
Quero o gosto das coisas no ponto
De vós, sobre nós, amo vosso manto azul
Sabendo que amanhã serei cinza.
Desejava escrever algo
Para Maria.
Tentava, tentava
E não conseguia.
Descobri o que se passava:
Maria já é poesia.
De sua existência sofrida e vivida,
Ela só mostra alegria.
Como entender poesia
Se não há educação para a poesia?
Como entender poesia
Se não há educação para a sensibilidade?
Como entender poesia
Se não há educação para a vida?
Para entender poesia
Basta um caso de amor com a vida.
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