Pra falar do meu avô
A minha infância invocarei
Ela é o caminho da roça
Que me leva ao Quilombo
Na crina dourada do tempo
Do meu cavalo baio
Vou partir de minha infância
Venham comigo
Cachoeira do Salto
Rio acima
Ao Poço Fundo passo
Margeando o rio Preto
E chego ao Quilombo.
E no canto de minha memória
No banco da varanda em L
Meu avô comanda a fazenda
Tudo bem cuidado
A tempo e a hora
Com Maria e Lucinha
E eu o que estou a fazer?
No pé de pitanga
Ou de manga
Escuto o Quilombo
Na voz do meu avô.
Se ciganos passassem
Pelas bandas do Quilombo
A mais bela mula da tropa
Com ele ficaria
Gostava de uma boa mula
Tinha que ser grande como ele
E nela só ele montava .
Pelego vermelho
Rabicho e peitoral
E seu chapéu de lebre
- Era o mais bonito dos avôs-
Seus olhos azuis
Infinitamente
Subiam a Serra.
Voltava altas horas
E a fazenda acordava
As esporas no assoalho
E Maria ainda levantava
Seu leite quente era sagrado.
De madrugada o rádio ligado
O Zé Bétio ou outro programa
Tinha que ter modão
Eu tenho uma mula preta
Tem sete palmos de altura
E a música entrou pelos meus ouvidos.
Via no estudo toda possibilidade
De mudança e de avanço
De mão no futuro pros netos
o mundo conquistar...
Assim termino meus versos
Mas antes quero dizer
Um orgulho tenho eu
De seus descendentes
Somente eu aqui fiquei.
(Maria Aparecida Ferreira Morais)