sábado, 28 de agosto de 2010

O lugar onde vivo - Tema da Olimpíada de Língua Portuguesa - PARABÉNS A TODOS MEUS ALUNOS QUE ENVOLVERAM COM ENTUSIASMO NAS OFICINAS ... E O RESULTADO? EI-LO:

CRÔNICA





DEPOIS DO PÔR-DO-SOL

Quando eu era bem pequeno, moleque desses curiosos mesmo, ficava impressionado com tudo que via a cada vez que meu pai me levava para acompanhá-lo em suas pescarias e ficávamos  acampados por essas margens afora do Rio Santo Antônio.
Como tínhamos que montar a barraca antes de anoitecer e dava um trabalhão danado eu sempre procurava escapar... preferia sair passeando pela beira das cachoeiras e ver os peixes encostando para passar a noite num lugar bem sossegado.
Numa dessas ocasiões, fomos para o Poço Limão, lugar de beleza incomum, rio acima a uns 8 quilômetros da cidade, lugar sem moradores, rodeado por uma mata. Era um belo fim de tarde, me encostei em uma pedra, após andar beira rio por uns bons minutos, fiquei observando o pôr-do-sol. Fiquei deslumbrado com aquele lindo espetáculo de cores se misturando com a orquestra que os insetos formavam como se estivessem agradecendo por mais um belo dia de vida.
E eu em meio a isso tudo, lembrei que era quase noite e estava um pouco longe do acampamento. E, então saí em disparada... mesmo assim escureceu antes que eu chegasse. Fui tropeçando. Dei o meu jeito: peguei um pedaço de pau e fiz dele meu guia, assim como fazem os cegos.
Ufa! Que alívio! Ouvi vozes familiares. Corri! Era a voz de meu pai.
_ Por onde você andou, menino?
_ Não vi a hora passar... – e abracei meu pai com força.

                                                                   (Wálacy, 9º ano 2010)

Orquestra na roça

                O amanhecer na roça se transforma em uma disputa de cantos entre belos galos  com suas posturas de reis do terreiro. Galos jovens, galos mais velhos ou até garnisés, formando uma orquestra de melodias diferentes com a magnitude de tantas vozes afinadas.
                Eu não conseguia definir qual canto era o mais perfeito. Observo a serenidade do pequeno galinho garnisé e a imponência do grande galo índio com seu canto curto e grosso, não muito afinado mas com uma característica diferenciada. São  vários galos na disputa: o músico, o garnisé, o índio, o pedrês, o gigante zabrão, o rabichara, o comum...
                Depois de ouvir essa mistura de cantos por mais de horas, ora um, ora outro, ora vários ao mesmo tempo, considerei que o belo galo músico ganhara a disputa com seu canto comprido levando o bico ao chão, ficando quase dois minutos sem parar de cantar. Seu esplendor, a sua postura de rei juntam-se a seu magnífico canto que suavemente passa pelos meus ouvidos e me deixa alegre por ter acordado admirando lindas canções compostas pelos galos, sendo todos cantores natos, profissionais!

Wálacy  Vieira Gomes, 9º ano – 2010

Anoitecer
                O fim da tarde já está chegando e a noite está entrando. O sapo canta na beira do rio que com a cachoeira  produzem um barulho estranho. Na cozinha o fogo crepita no fogão à lenha  parecendo fogueira de São João. O curiango grita pela estrada : “amanhã eu vou”. É a beleza do som do anoitecer e tudo fica mais calmo.
                Cada vez escurece mais, as estrelas ficam cada vez mais brilhantes e a lua entrega a sua beleza à madrugada.
                Deixo essa beleza e vou para minha cama, pois amanhã tenho que estar de pé às 6 horas  e  começar o meu dia de trabalho e às 4 horas  quando termina o dia de trabalho me preparo para mais um espetáculo do anoitecer. É como um sonho, cada dia mais alegria de viver e a certeza que vamos curtir muito as noites maravilhosas.
                Então a cada anoitecer tenho certeza que a vida é um grande espetáculo.
Daniel Jônatas. 9º ano, 2010     

Anoitecer


                O anoitecer é sempre maravilhoso. Eu sempre observo o sol se por por detrás das montanhas e mais tarde a lua saindo... iluminando tudo. As estrelas brilham no céu clareando o mato. É sempre muito bom!
                A lua, às vezes, se parece com um globo, outras vezes com uma banana e eu bem queria saber por que a lua tem formatos diferentes... por que serve de inspiração para os casais apaixonados... lua, lua que tanto de encanto que deixa tantos tontos...
                E quando acontece do céu não clarear, a lua não sair, a noite fica escura, o mato sombrio e até um pouco assustador, eu também me escondo dentro de casa com as portas e janelas fechadas ouvindo apenas os bichos noturnos amedrontando-me.
                E assim se passam os dias, cada um com seu brilho - uns mais outros menos - e seu charme em cada anoitecer... Tudo vai adormecendo e por fim resta sozinha a noite linda. Seja clara ou  escura a noite tem seus encantos. E eu por fim vou dormir feliz por poder presenciar mais um anoitecer. Obrigada, meu Deus!
Tayná Fernandes, 9º ano – 2010.


 Amanhecer na roça
                O   amanhecer na roça começa com a orquestra dos galos; pois eles fazem questão de  acordar cedinho para mostrar e exibirem seus talentos – cada um em seu terreiro com seus gogós afinados. A cada cocoricó mostram quem é que mandam no terreiro.
                Depois o aroma do café coado invade  toda a casa nos enfeitiçando para tomar um gole acompanhado com um belo pedaço de queijo. Mas o amanhecer na roça é também o despertar do trabalho, pois é bem cedinho que todos começam suas obrigações.
                Não há amanhecer melhor do que na roça , acabei de crer – é na roça que tenho o imenso prazer de acordar com as canções dos galos e ter um café com queijo bem mineiro me esperando na mesa... É garantia que meu dia será perfeito.

Jéssica      Lorraine  Batista Araújo, 9º ano, 2010

O lugar onde vivo - Tema da Olimpíada de Língua Portuguesa - PARABÉNS A TODOS MEUS ALUNOS QUE ENVOLVERAM COM ENTUSIASMO NAS OFICINAS ... E O RESULTADO? EI-LO:

POESIAS

MEU CANTINHO

Co – co – ri – có!
Raiou o dia
O galo anuncia
Tá na hora, dona Maria,
De um café quentinho preparar.

Da  lenha nasce a chama
E o fogo baixo inicia sua sina
Pra espantar o frio da manhã
Rodeando o fogão de lenha
Reúne a família e combina.

Cada um procura o que fazer
Nossa vida não é só lazer
Para a natureza nos agraciar
Não dá pra ver apenas o tempo passar.

Enquanto isso o tic tac do relógio
Vai sem parar o tic tac sem fim,
brilha  o sol cada vez mais  alto
O dia também procura o fim.

Chega a hora do almoço
Saco vazio não para em pé
Dizem por aí - é verdade verdadeira
Na qual eu boto fé.

Depois de encher a barriga
É melhor dar uma descansada
Pois ninguém é de ferro.
Ainda vamos pra cidade.

A tarde vem num piscar de olhos
O dia está indo embora...
As contas, a reunião na escola,
Tudo acertado e a correria para.

Vencido mais um dia
O sol já cumpriu sua jornada
E eu, cumpri a minha?
É hora de jantar e bater papo.

Depois desse corre corre
Tudo pára
O tempo esfria
O fogão de lenha me atrai
O fogo aquece a conversa.

Mas é hora de por os olhos na bainha.
O frio aperta,me enrolo e enrosco.
Madrugada,  sono pesado
Belos sonhos...e que sonhos!

E de novo co-co- ri-có...
Novamente mais um dia
Acorda, dona Maria,
E faz um café pra nos esquentar.

E  nessa rotina
Segue a vida desse lugar
e agradeço todos os dias
o poder de desfrutar
desse cantinho especial.
   (Taynara, 6º ano, 2010)

ROTINA DE SANTO ANTÔNIO

Amanheceu, galo cantou
Brisa geladinha soprou
Lá do leste o sol levantou
O dia acordou, a vida começou.

Os pássaros festejam
O dia que vem vindo
E cantam hinos
Este é o amanhecer mais lindo.

As flores estão lá
E  as pétalas aguardam
Serem penteadas pela brisa
Que passa pra lá e pra cá.

Assim deixamos a cama quentinha
Com o cheiro do café a convidar
Tem broinha de fubá
E leite fresco pra acompanhar.

Agora aos trabalhos essenciais
Regar a horta e alimentar os animais.
Varrer o terreiro e almoço preparar
E as crianças pra escola estudar.

O sol cada vez mais forte
Deixa o leste e vai para o alto do céu
Animais procuram sombra
e na roça é hora do café.

Os pássaros constroem seus ninhos
Abelhas colhem o néctar das flores
Bezerros saltam em volta das mães
E o riacho embala a vida por ali.

Sentada na varanda
Ouço até meu pensamento
Com os cabelos soltos ao vento
Sentindo a gostosa brisa da vida.

E para o oeste o sol vai indo
Ta na hora de descansar
Para no outro dia firme e forte
No mesmo lugar estar.

As lentamente a noite vem
O frio se aproxima
O céu fica estrelado
O luar vem gelado.

E no escuro da noite
No meio do brejo
O sapo coaxa ( e como coaxa!)
O grilo cricrila ( e como cricrila!)

Sob o luar dormimos
No meio da noite fria
Mas logo irá amanhecer
E sol virá aquecendo nossa vida.
   (Márcia Cristina, 6º ano, 2010)


E COMEÇA O DIA...

E começa o dia ...
Bem-te-vi , fazendeiro, canarinho
E de bem com a vida na cantoria
todos soltam as vozes em harmonia.

Vacas bois e bezerros
Soltam seus berros.
Cachorros atrás dos cavalos
Pelo pasto vão acelerados.

Águas batendo na pedra
Formam cachoeiras
Peixes descem na corredeira
E pro rio vão...

Escurece.
Os pássaros soltam o último canto.
Em silêncio vou dormir.
Apenas ouço o sapo martelo martelando...

E de manhãzinha
O galo canta
A neblina baixinha,
O frio gelado...

Largo a cama quentinha
E vou sentar à beira do fogão
Tomar café 
E um novo dia começar.

   (Pâmela, 6º ano, 2010)

FRAGMENTOS

Levemente enrolando pelas  pedras
Como gotas preciosas caindo do céu
Vem descendo a cachoeira do cristal.

Montanhas altas e pequenas
Cada uma delas abriga
Seu jeitinho de nos encantar.

O rio desce pela cidade
Com suas pequenas  ruas e bairros
Mas tudo é grande pra admirar
As casas, a amizade, a fé sem par.

E corre como o vento
As águas batendo nas pedras
Vão sua rota fazer
É muita beleza pra apreciar.

E nosso coração é ainda maior
Pois é capaz de guardar
todas as belezas desse lugar.
   (Maria Luíza, 6º ano, 2010)

BELEZAS DO MEU LUGAR
Acordo de manhãzinha
Sento na varanda
Fico a observar o amanhecer
A paisagem, os barulhos, os cheiros.

As montanhas se escondem na neblina
Devagarinho o frio envolve a manhã
E de mansinho o sol vem surgindo
É um espetáculo que ilumina.

O movimento dos pássaros
Que cantam sem parar
A disputa dos galos a cantar
O barulho do riacho chuá...chuá...

E da cozinha vem o cheirinho do café
Que se mistura com as rosas do jardim
Tudo começa a funcionar enfim
O trabalho agora dá a vida por aqui.























AMANHECER COM AS BELEZAS
O amanhecer em minha terra
Vem lá do alto da Serra
O vento bem gelado
Com a neblina  bem baixinha.

E o sol nasce bem atrás das montanhas
Com um brilho que irradia
E com o seu calor vai sumindo a neblina
As nuvens vêm vindo – que lindo!

O cheiro do café me faz levantar
Tem queijo bem mineiro na chapa a derreter
Broinha de fubá e biscoito pra comer
Com canela o leite vem pra completar.

E o galo canta exaltando a natureza
Tudo começa a acontecer
Os adultos vão trabalhar
As crianças estudar e brincar.

O rio desce por minha cidade
Silencioso e harmonioso
É um lugar muito gostoso
É tranqüilidade de viver.

Aqui o povo é hospitaleiro
Tem muita alegria de mineiro
Tem belezas pra se ver
E sossego de envolver.

Aqui é mesmo um lugar especial
Tem belezas sem igual
Cachoeiras que chuviscam
E cachoeiras de cristal.

Assim é o viver
De Santo Antônio do Rio Abaixo.





ENCANTOS
Em Santo Antônio eu vejo
Todo desejo
De querer viver.

Aqui passa o sorriso da vida.
E no meu olhar fico a gravar
A beleza desse lugar.

O chão, o rio, as folhas
Os pássaros, as crianças
Tudo é calmo.

A serra sempre em curva
Com a neblina se misturando
e mudando de jeito e de forma


Sem saber me perco nesses encantos
De meu olhar
Misturando a vida e a alma
Nesse lugar.

   (Joelma, 6º ano, 2010)

O lugar onde vivo - Tema da Olimpíada de Língua Portuguesa - PARABÉNS A TODOS MEUS ALUNOS QUE ENVOLVERAM COM ENTUSIASMO NAS OFICINAS ... E O RESULTADO? EI-LO:

MEMÓRIAS LITERÁRIAS


PELAS ESTRADAS

           
Enquanto meu avô contava-me suas histórias passavam imagens em minha cabeça parecendo que eu estava junto dele nesta incrível viagem...

            “A hora da partida se aproxima. Inquietação total. Ouvia-se o toc-toc das patas dos cavalos a bater nas pedras do calçamento da rua principal onde reuníamos para  pegar a estrada. Era pouco mais das três da manhã.

Era o meu primeiro dia de tropeiro. Tudo pronto: o alforje, a capa de chuva, espora, chicote...Ia um ou dois cargueiros levando as panelas, a carne seca, o feijão, a farinha, as cobertas, umas redes de dormir e outras coisas necessárias para nossa viagem.Cada tropeiro procurava enfeitar mais a sua montaria com pelego, peitoral, rabicho, porta-capa de babado  - era uma competição de ornamentos.Já estávamos prontos e em poucos minutos estaríamos percorrendo as estradas levando mais uma tropa para ser negociada em São Paulo – eram mais de trezentos  animais entre burros, mulas e jumentos. Fomos saindo passo a passo...
Seriam quarenta dias consecutivos de viagem, quarenta noites dormindo pelas estradas, em fazendas já acostumadas a receber tropeiros na ida e volta de suas longas viagens. Em algumas dormíamos em paiol, em outras na varanda, ou em quartinhos destinados aos empregados, até mesmo na coberta do curral. Nossas refeições eram feitas nas estradas – farinha, feijão,ovo e torresmo, tudo misturado – o “feijão-tropeiro” – daí o nome desse famoso prato.
Em nossas paradas nas cidades  havia diversão, sempre o “Deli”, um dos companheiros mais festeiros,arrumava uma “radiola” -  toca- discos daquela época - e juntava muita gente pra dançar e prosear – que é bem semelhante aos passeios a cavalo  que fazemos aqui em Santo Antônio e que chamamos “Cavalgoles” por ser somente pelo prazer de cavalgar, tomar uns goles nas paradas e dançar um  forró.
Bem, assim se passavam os dias até chegarmos em Passos , cidade na divisa de Minas Gerais com São Paulo. Lá encontrávamos os paulistas que iriam comprar os animais e também aceitávamos trocas. Depois das negociações voltávamos, nos divertindo, amansando burros bravos e colecionando histórias pra contar.

Lembro-me dessa viagem como se fosse ontem, naquela época eu tinha 17 anos... É!... Já se passaram 53 anos! (Como o tempo passa rápido!)”

(Texto baseado na entrevista de Altamirano , meu avô)
ALUNA: Laura Ferreira Morais, 7º ano, 2010

SABOR DE ANTIGAMENTE

Antônio Rufino da Silva é meu avô, tem 100 anos, mora em minha casa e é com prazer que narro uma de suas lembranças.

“Morei grande parte de minha vida na Fazenda Boa Vista, na localidade de Lagoa Seca aqui em Santo Antônio do Rio Abaixo - fazenda de extensos campos verdes, cheia de frondosas árvores enfeitando aquela vastidão de chão coberto de verde! – e, que hoje, já não existe mais...(seus olhos brilhavam ao me contar suas recordações , pareceu-me que ele havia se transportado numa máquina do tempo e eu fui junto com ele ao seu passado).
Minha vida de criança era de adulto, o trabalho já nos castigava desde cedo. Minha mãe sempre dizia:
_ Menino, vai trabalhar! Não quero que fique marmanjo preguiçoso!
No outro dia, “meiando” cinco horas da manhã pegava a marmita e partia para o “aricho” – moitas de mato no meio do pasto, lugar “bem sujo”. Meu pai e eu roçávamos o dia inteiro de sol a sol.
O ordenado – salário pelo trabalho realizado – que era bom, não tinha não! Trazíamos para casa uns mantimentos que era para alimentar dez irmãos e receber pessoas mais chegadas que apareciam para almoçar e “ bater um dedo de prosa”.
Para mim, brincar era só nas rezas de domingo. Lá brincávamos de roda e zorra – estas brincadeiras não existem mais, hoje as crianças são tristes, paradas, não são como as de antigamente!  Logo que acabava a reza, no caminho de casa, eu sempre pedia meu pai para “chegar” na venda do Seu Silvestre da Costa Lage, ali na rua – olha, menino, este é o nome dessa rua, mas isso é outra história, depois eu te conto.
De longe a gente sentia o cheiro dos biscoitos torrando e juntava-se ao cheiro da fumaça escura que vinha do forno a lenha. Meu pai  sempre comprava aqueles biscoitinhos brancos bem docinhos. Seu Silvestre sempre dava uns biscoitos a mais “de pinga”. Voltávamos pelos trilhos e eu com água na boca, já que papai não deixava comer nenhum biscoito antes de chegar em casa.
E como demorava a chegar! Meia hora parecia uma eternidade. Quando chegava em casa, comia os biscoitos – eram tão gostosos, coradinhos e torradinhos, que desmanchavam entre os dentes com uma suave cosquinha no céu da minha boca. Hum! Comia devagar para não acabar rápido.
Dá saudade desse tempo... hoje em dia, os biscoitos, as brincadeiras, o trabalho, é tudo diferente! Coisas ruins para a nossa saúde, muito diferente do que aprendi e acostumei a viver ... era uma época de muitas felicidades, que hoje venho lembrando e relembrando  dia a dia , vida totalmente diferente do que levo hoje.

(Texto baseado no depoimento de Antônio Rufino da Silva, 100 anos)

ALUNO: Gustavo Silva Nascimento, 7º ano, 2010 


         VIRANDO CINZAS

         Enquanto “Tia” Lúcia me contava essa história, eu mergulhava naquelas palavras, esquecendo o meu presente e, me sentia vivendo cada momento retratado, viajando em cada expressão e sentimentos.
         “Santo Antônio do Rio Abaixo era uma cidade do tamanho da palma de minha mão, pacata, onde vivíamos uma vida bem simples e harmoniosa, isso há quase quarenta anos.
         Essa cidade tinha o privilégio de ter uma das mais belas casas – era como se fosse uma fotografia de revista, irreal, uma miragem – grande, de dois andares, vistosa, toda assoalhada, com jardins por todo lado, imponente numa rua calçada de pedras, dando a sensação de um palácio, encantando a todos santantonenses.
         Era a casa de minha tia Vera. Um dia decidiu se mudar para Belo Horizonte, procura de condições de vida que só a capital poderia lhe dar.
         Por mais que não fosse de sua vontade, foi necessário vender a casa e quem a comprou foi um casal amigo: o Sr. Modesto e a Sra. Maria das Graças – ele, filho de um dos mais abastados fazendeiros de Santo Antônio e, ela, professora .Imediatamente mudaram para ela e com eles veio morar uma de suas irmãs – Maria do Socorro, cujo apelido era Nenen.
         Naquela época preparar uma festa de casamento durava mais de uma semana e, era isso que acontecia na casa da “DasGraças” – uma festa de arromba para o casório de sua irmã Nenen com um  cidadão ,filho de um importante fazendeiro da cidade vizinha. A união desse casal, com certeza, era uma grande felicidade para as duas famílias.
         Toda a cidade assistia ao corre-corre dos preparativos, foram construídas mais fornalhas para dar vazão aos doces e carnes que eram preparados. Era trabalho intenso para muitas cozinheiras. Foram dias de labuta. Tudo quase pronto. Véspera do sonhado dia, mais trabalho e, portanto mais cansaço. Quando a última cozinheira deixou as fornalhas, conferiu uma por uma para ver se as brasas estavam bem tampadas com as cinzas para que no outro dia fossem reavivadas. Tudo  em ordem, podia dormir para acordar mais cedo no grande dia.
         Todos dormiam e de repente um clarão iluminava a casa e um cheiro estranho acordou a DasGraças -  as chamas invadiam tudo, não deu tempo de salvar nada. Aquele fogo iluminando a casa como uma gigantesca lareira, dando gosto de ver! A lenha que estava na lareira, reacendera e como havia muita lenha , o fogo foi passando, a casa era de pau-a-pique e se espalhou facilmente queimando tudo.
         E o casamento? Os noivos receberam a bênção do matrimônio e ainda teve uma festa improvisada, longe do banquete que virou cinzas junto com todo o enxoval da noiva.
         Até hoje não dá pra acreditar no que aconteceu – sonhos viram cinzas.”

(Texto baseado no depoimento de Lúcia Martins do Santos)
ALUNA: Laura Ferreira Soares , 7º ano, 2010


 NAQUELE TEMPO

         Meu avô me contava as histórias de sua mocidade, recordava os fatos. Para mim não foi difícil imaginar como era aqui a mais de 60 anos, fui ouvindo suas palavras e tudo surgiu como num filme.
         “ Tenho muitas lembranças de Santo Antônio, essa nossa pequena cidade de Minas Gerais, aliás, nem cidade era e sim um distrito de Conceição do Mato Dentro.
         Na época da minha infância a vida era muito difícil. Para ir a escola, que era só até a quarta série, eu e meus irmãos vínhamos a pé, fazendo sol ou chuva, poeira ou barro! Depois da 4ª série, quem tinha recursos ia estudar fora – Belo Horizonte, Conceição do Mato Dentro ou outra cidade que oferecesse ginasial – quem não tinha, como eu, ficava para trabalhar na roça.
         Também não havia transportes, nem para os doentes, esses, quando precisavam ser hospitalizados eram removidos em padiolas – colchões amarrados em bambus, levados em ombros de homem até o Morro do Pilar , onde havia ônibus para a capital de Belo Horizonte. Quando não precisavam ser hospitalizados eram curados pelo Dr. Seraphim Sanna, farmacêutico da região. Ele produzia os remédios e os enviava aos pacientes.
         A região também não tinha luz elétrica. Vivemos muitos anos a luz de lamparinas e lampiões. Só por volta de 1980 é que começamos a vislumbrar a energia elétrica chegando em nossa cidade. A princípio era gerada por  um motor a óleo, como esse óleo era caro, a energia era desligada às 23 horas o que fazia que todos se recolhessem nesse horário.
         Hoje, resta-me a lembrança de um mundo totalmente diferente, uma vida dura, mas feliz!”
         Depois de ouvir o que meu avô me contou, já era noite, olhei pela janela e pensei: como pode... essa cidadezinha já foi menor do que é!
(Texto baseado na entrevista de Altamirano , meu avô)
ALUNA: Anna Clara de Andrade Silva

LEMBRANÇAS

         Enquanto meu avô contava a sua história , a imagem ia se formando em minha cabeça e eu fui entrando em sua narrativa...
         “Santo Antônio sempre foi uma cidade pequena. Antigamente era menor ainda. Existiam poucas ruas, todas de terra. Havia muita poeira. As poucas casas eram bem simples, a maioria de pau-a-pique. Em todas elas o fogão era a lenha, que esquentava os moradores nas noites frias. Os móveis eram basicamente mesas, bancos, prateleiras e camas.
         Os meninos brincavam com carrinhos de madeira e as meninas com bonecas de pano e sabugo de milho. Brincadeiras com bolas de meia e fruta-de-lobo também eram comuns, além de nadar no rio e pular no bagaço de cana no engenho.
         Para  estudar era muito difícil, principalmente para quem morava na roça. Tínhamos que vir de longe, a pé. A maioria estudava até a 4ª série, grau máximo de escolaridade que tinha na cidade. A maioria que concluía esse grau ficava trabalhando na roça. Quem tinha condições estudava fora, mas eram poucos!
         Naquela época não tinha energia elétrica. Esta só chegou até aqui bem tempo depois. E essa cidade foi se transformando aos poucos: ruas de terra foram calçadas, novas ruas surgiram, casas antigas deram lugar a outras, bem mais modernas. Poucos casarões restaram para contar a história daquela época.
         Não havia festas com todo esse som, esses shows com bandas nas festas populares. Faziam-se uns bailes, onde reuniam moças e rapazes ao redor de uma radiola – vitrola, som antigo onde se tocavam discos de vinil – e só! Olha, namorar antigamente era só sentar ao lado e às vezes, pegar na mão!

         Hoje a vida é muito diferente! Dá saudade daqueles tempos!!! Mas vivo feliz com meus filhos e netos relembrando esse passado difícil, mas cheio de recordações boas!


(Texto baseado na entrevista de Altamirano , meu avô)
ALUNA:  Vitória Andrade de Morais Santos, 7º ano, 2010)